Moçambique tem sofrido, nos últimos anos, importantes transformações com o descobrimento e a exploração de jazidas minerais por parte de grandes empresas transnacionais, a juntar aos megaprojetos de agricultura extensiva, configurando-se assim uma nova paisagem socioeconómica nas províncias do norte do país, com implicações na vida das suas populações. Esta investigação pretende analisar as mudanças na estrutura social e as desigualdades económicas, de género e étnicas provocadas pela recente atividade extrativa e agrícola nestas províncias. Concretamente, analisar-se-ão os retrocessos nos direitos sociais básicos dos setores mais desfavorecidos (camponeses, mulheres, crianças) e a deterioração dos mecanismos de participação destes nas tomadas de decisão que afetam o seu bem-estar. Utilizando um enfoque multidisciplinar de ciências sociais, e utilizando quadros analíticos de desenvolvimento territorial, desenvolvimento humano local e enfoque de capacidades coletivas, proceder-se-á a uma recolha de dados quantitativos e qualitativos a nível local. Contudo, esta investigação não pretende ser apenas um insumo teórico, mas também prático, que possa ser utilizado pela sociedade civil organizada destas províncias no seu esforço para desenvolver capacidades e avançar na coesão social e nas alternativas locais de desenvolvimento e bem-estar ao modelo imposto pelas grandes corporações em conivência com alguns setores governamentais. Trata-se, pois, de um projeto coletivo de investigação-formação e incidência política, no qual tentaremos articular a investigação com outros resultados para além da produção de artigos académicos, sejam formações sobre resistências comunitárias face aos megaprojetos, sejam campanhas de consciencialização sobre esta mesma realidade em Moçambique.
Jokin ALBERDI BIDAGUREN . Universidad del País Vasco . jokin.alberdi@ehu.eus
Vasco André COELHO FERREIRA . Universidad del País Vasco . vascoelho79@gmail.com