Mudança de tom: Uma análise da nova tendência pessimista no discurso do rap angolano

O ritmo musical rap é um meio de intervenção contra a situação política de Angola desde o final da década de 1990. Raposo (2015) destaca que existe um artivismo no país, caracterizado pela utilização da arte como ferramenta de contra-poder. O governo do presidente José Eduardo dos Santos responde ao movimento com represálias. A repressão ficou mais nítida a partir de 2003, quando o lavador de carros Arsénio Sebastião, o “Cherokee”, foi morto por soldados da Unidade de Guarda Presidencial (UGP), em praça pública em Luanda, por cantar uma música do rapper MCK. Desde 2011, alguns rappers como Luaty Beirão e Carbono Casimiro passaram a atuar em manifestações sociais, que são conhecidas como Movimento Revolucionário Angolano, apesar do grupo não adotar uma nomenclatura oficial. Oliveira (2013) considera que o grupo expressa a revolta social com mais veemência do que os cinco partidos políticos do país juntos. Devido as constantes agressões, o grupo diminuiu as ocupações em praças públicas e passou a se reunir em locais fechados, o que não impediu as prisões de 17 ativistas em 2015. O discurso combativo e revolucionário reivindicado por alguns rappers tem sido substituído por um tom de desesperança, como resultado da crise econômica, das prisões dos ativistas e do controle estatal dos meios de comunicação. O objetivo desse trabalho é fazer análises de discurso das músicas “Te Odeio 2016”, de MCK e “O Apagar da Esperança”, de Kid MC, que ilustram o momento, ao antecipar a continuidade dos problemas. Os rappers também foram entrevistados via e-mail. As análises de discurso são feitas a partir das perspectivas de Orlandi (1999) e Borges (2002), que entendem a língua como ferramenta para produzir sentidos e meio em que os sujeitos utilizam para conseguir adesão às suas ideias.

 

Francisco Carlos Guerra de Mendonça Júnior . Universidade de Coimbra . carlosguerrajunior@hotmail.com

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