Em Moçambique, nos anos 90 do século passado, acontece a liberalização dos meios de comunicação social e com estes do cinema. Cineastas oriundos do antigo do INC e da Kanemo estão na base da formação das empresas que serão a espinha dorsal da “revolução” que se avizinha. O acesso à nova tecnologia digital facilita o nascimento de uma nova cultura da imagem que no caso moçambicano se alicerça no cinema e se alimenta no documentário. Parece hoje muito difícil, estabelecer em Moçambique um centro de produção cinéfila com a importância e autonomia que teve nos anos que se seguiram à Independência e que afirmava inclusivamente uma perceção diferente, da história, do mundo e da arte. A produção cinematográfica moçambicana está muito dependente dos circuitos internacionais de financiamento e do conceito de coprodução. A produção de documentários e mesmo alguma ficção, financiados por ONGs, tem sido uma estratégia de sobrevivência encontrada por alguns cineastas. Estes filmes procuram, muitas vezes, conciliar as ambições artísticas e as preocupações sociais dos seus autores com as exigências temáticas de quem os financia, e se por um lado propõem discursos disruptivos, por outro, reificam representações sociais hegemónicas. Como se relaciona o público com essas obras? Durante 3 meses na cidade de Maputo foram mostrados e discutidos filmes em vários contextos socioculturais distintos. Apresenta-se aqui a reflexão motivada por esses debates concretamente no que se refere ao filme O Jardim do Outro Homem de Sol de Carvalho, assumindo o diálogo do público com as imagens em movimento como o momento último da produção fílmica.
Ana Cristina Pereira . CECS/UMinho