A exploração de recursos naturais afecta fortemente as sociedades rurais africanas. Negociada e implementada sem a sua participação, a exploração de recursos naturais altera drasticamente o espaço produtivo e, consequentemente, a capacidade produtiva destas sociedades, ameaçando a sua coesão social. No extremo noroeste da Guiné Bissau e numa faixa estreita do sudoeste de Casamança, no Senegal, encontra-se estabelecida a sociedade agrícola Felupe, ou Joola-ajamaat. Avessos a ingerências externas e ciosos da sua organização social, os Felupe mantêm ainda hoje muitas das suas características tradicionais. Bem adaptados ao meio – área muito irrigada, com muitos mangues e palmares e um solo ferruginoso rico em matérias orgânicas, meio propício à orizicultura – desenvolveram um conjunto de saberes e técnicas que, durante séculos, lhes permitiu assegurar as suas necessidades alimentares e religiosas e manter a sua coesão social. Contudo, o seu sistema produtivo e a sua economia de subsistência, já de si fragilizados pelas alterações ambientais e diminuição de mão-de-obra, encontram-se hoje fortemente ameaçados pela exploração de areias pesadas no seu “chão”. Confrontados com a destruição de terras e culturas, adoptam estratégias reivindicativas tradicionais, no meio rural, e estratégias modernas, em meio urbano. Nesta comunicação, fruto de uma investigação em curso, pretende-se analisar as estratégias reivindicativas adoptadas pelos Felupe em defesa das suas terras e do seu modo de vida.
Lúcia Bayan . CEI-IUL . luciabayan@gmail.com