“Vocês estão a nos matar!…” Análise sobre os impactos de uma empresa brasileira de mineração em comunidades rurais da província de Tete, Moçambique

Por meio de trabalho de campo na província moçambicana de Tete entre março e abril de 2014, com a realização de entrevistas e observação participante, neste trabalho procuro refletir sobre os impactos imediatos que a atuação, em Moçambique, de Megaprojetos de exploração mineira estrangeiros, em especial a empresa brasileira de mineração Vale-Moçambique, estão a proporcionar nas comunidades locais.  Assim, através do valioso suporte da Associação de Apoio e Assistência Jurídica às Comunidades (AAAJC), associação sem fins lucrativos localizada no bairro do Matundo e Tete, foram realizadas visitas aos dois reassentamentos da empresa, nomeadamente as comunidades 25 de Setembro e Cateme localizadas no distrito de Moatize, com o objetivo de observar as principais demandas destas populações e suas perspetivas a respeito da presença das empresas. Dessa forma, afirmo que a atuação de empresas de mineração como a Vale-Moçambique estão a dar continuidade a uma lógica da monocultura da produção capitalista de cunho neoliberal e neocolonial e, por meio de uma monocultura do saber (Santos, 2006), a perpetuar pelo menos dois tipos de desenraizamentos: o desenraizamento de populações de seus territórios, e o desenraizamento (ou exclusão) dessas mesmas populações dos processos de decisões, inviabilizando o exercício de uma cidadania participativa. Ainda, busco examinar se por meio da colonialidade do poder (Quijano, 2005) a ideia de desenvolvimento no séc. XXI, aliada a cooperação, não está a reproduzir em Moçambique as lógicas do colonialismo, do planeamento centralizado pós-independência e do neoliberalismo, e assim provocando silenciamentos e impedindo as populações locais de uma participação social emancipatória e cidadã.

 

Fabrício Rocha . CES-Coimbra . fabricio13rocha@gmail.com

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